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1985 - Xingú, Passáro Guerreiro

Desfile
1ª escola a desfilar | 18/02/85 | Rio Branco
Resultado
Campeã do Grupo 2B (AESCRJ) com 219 pontos

FICHA TÉCNICA

Presidente
Nésio Nascimento

Autor do Enredo

Maria Augusta, Lícia Lacerda, Rosa Magalhães, Edmundo Braga, Paulino Espirito Santo e Viriato

Carnavalesco

Maria Augusta, Lícia Lacerda, Rosa Magalhães, Edmundo Braga, Paulino Espirito Santo e Viriato
Direção de Harmonia
Jorge Paes Leme
Direção de Bateria
Fornalha
1º casal de mestre-sala e porta-bandeira
Lúcia e Paulo Roberto

Responsável pela Comissão de Frente

José Carlos Machado + Abertura de Jorge Paes Leme e Vilma Nascimento

Componentes

2.500

Alegorias

10

Alas

40

SINOPSE DO ENREDO

Quando dos confins azuis, o arco-íris, lançar nos espaços as asas brancas do CONFOR-GUERREIRO PÁSSARO, o canto, frito, cobrirá num brado de alerta os asfaltos do mundo, em defesa daquela gente sofrida, nua com cabeças coroadas, que vivem nas matas e florestas, caçando, pescando, cultivando milho e a mandioca, lutando em defesa da sua liberdade.


Aos nossos índios, homenagem primeira, daquela que em luta semelhante, também eclodiu seu brado guerreiro, empunhando não arcos, flechas, mas entoando cantos e danças, tocando atabaques e tamborins, lembrando que suas cores, integridade, caráter genuíno do seu samba, têm que ser preservados.


A luta já vem de muitas luas. Por séculos foram os índios enganados, espoliados da sua própria terra, aviltados em sua dignidade, esmagados na sua cultura, por aqueles que os encaravam e ainda os tem como entrave para o progresso. Não compreendiam e nem compreendem que na licitação da própria ganância talvez tivessem que com eles apreender quase tudo da dança da vida e da morte. E, seguem até hoje o pensamento de Varnhagem, historiador, ideológico do colonialismo do século passado, para quem os índios eram os grandes subversivos do império: “Não respeitam nossa lei, nem nosso rei”, dizia. 


Esquecem somente que nunca foram respeitados, e que se algum erro cometeram foi o da suprema inocência e não alcançarem a profundidade da maldade em certos homens.


O GRÊMIO RECREATIVO ESCOLA DE SAMBA TRADIÇÃO, com cerca de 1.500 figurantes, entrará de azul e branco na Avenida Rio Branco, solidária com aqueles que há muito lutam por seu solo, pela manutenção da própria liberdade.


Seu TEMA: PELAS TERRAS DO PAU BRASIL, PÁSSARO GUERREIRO, um grito de alerta à situação dos primeiros habitantes desse pindorama verde e amarelo, que reivindicam desde à época que sua terra assim foi denominada pelos caraíbas, a demarcação do próprio espaço físico.


Chamado cartão de visita do país conhecido pelas festas, como quarup, aruanã, sucuri, ualalocê, as cores vibrantes do urucum e do jenipapo, assim tornou-se famoso o PARQUE NACIONAL DO XINGU. Criado em 1961, já reduzido em cerca de um quinto do projeto inicial de demarcação, sofrendo através dos anos, reduções, alterações, provocando principalmente, por invasões dos fazendeiros, pela construção da BR-080. Ali já viviam dede épocas remotas, várias tribos como Ealapalos, Kamayurás, Kuicuros, verdadeiros donos. Quando os criadores e idealizadores do parque, os irmãos VILLAS BOAS, conseguiram o Decreto que originou, na região já existiam 17 tribos.


Durante anos, foi conhecido como a vitrine de expansão da política indigenista, brasileira, constituindo-se para os antropólogos brasileiros, verdadeiro paraíso terrestre,  graças ao trabalho dos irmãos que conseguiam fazer com que as tribos, ficassem isoladas relativamente, uma vez que a entrada do branco só se dava a partir de um sistema bastante rígido de controle.   


Com a saída dos VILLAS BOAS, o caos começou a se instalar no até então paradisíaco parque, vês que começou a ser invadido, cercado por fazendeiros, culminando na década de 70 a ser atravessado por estrada que ia do nada a lugar algum.


Hoje as invasões adentram cerca de 40,60 km do Parque.


O conflito mais recente envolveu a tribo dos Txucarramãe, cujos membros chamam a si próprios de MENTETIRE, gente muito preta. Mais altos e mais escuros que os outros índios, seu nome vem do costume de pintar o corpo com tinta de jenipapo, muito preta e resistente à água. Reivindicavam faixa de terra de 15km de comprimento por 100 de largura à margem direita do Rio Xingu, como área de proteção para evitar contatos direto com os fazendeiros, defendendo assim não só o solo, mais a própria sobrevivência, já por demais ameaçada não só pelos conflitos mas também pelo contato com os brancos, e, a cessão da chamada TERRA DO CAPOTO, terra sagrada, à 60km da Aldeia Kretire, que desde a construção da BR-080 estava fora dos limites do parque.


Naquele dia, cerca de 46 nações indígenas se uniram contra a invasão das suas terras. E, defendendo seus limites, bordunas, arcos, flechas e tacapes, facões foram empunhados. Amata emudeceu, as uyaras se calaram, os curumins assustados esconderam-se, os matitas-pêres, caiaporas, ijupiaras, desapareceram, os curimãs fugiram dos rios, o mandacaru não floresceu na serra, o canto do uirapuru transformou-se em triste lamento, pressagiando o perigo.


Preces e oferendas foram feitas ao Deus Tupã, pedindo que a terra ficasse com aqueles que nela sempre habitaram. Somente as forças de Deus, poderiam no seu saber infinito, resolver o conflito, comover os brancos que irmãos fossem, para que no íntimo de suas consciências e, no fundo de si mesmos compreendessem que longe na morada do sol e da lua, o paraíso continuação da terra, estava ameaçado pelos caraíbas inimigos que queriam tomar suas terras, não respeitavam seu símbolo da própria vida. As castanheiras, poluíam seus rios, abriam estradas com suas estranhas máquinas metálicas, destruindo assim suas reservas, dizimando seu povo.


Mas, na madrugada de 2ª Feira, na Avenida, lá longe das matas, o CONDOR – PASSÁRO GUERREIRO, estará à frente da ESCOLA TRADIÇÃO azul e branca, guiando valorosos guerreiros sambistas, que embora não estejam pintados com a tinta preta de jenipapo ou vermelho de urucum, nem enfeitados com cocares e colares verdadeiros, estarão unidos em cantos e danças, com os irmãos da selva, num sentimento fraterno.


O Deus Tupã benzeu o muiraquitã. As preces e oferendas foram aceitas.


Redigido por: Maria Amélia Barreto

Pesquisa: Edmundo Braga

Fonte: Luis da Câmara Cascudo

            Jornal do Brasil

            Folha de São Paulo

            Estado de São Paulo

SAMBA DE ENREDO

compositores
João Nogueira e Paulo César Pinheiro
intérprete
Gilson Canganga

Pintado com tinta de guerra 
O índio despertou 
Raoni cercou 
Os limites da aldeia 
Bordunas e arcos e flechas e facões 
De repente eram mais que canhões 
Na mão de quem guerreia

Caraíba quer civilizar o índio nu 
Caraíba quer tomar as terras do Xingu


Quando o sol resplandece os raios da manhã 
Na folha, na fruta, na flor e na cascata 
Reclama o pajé pra Tupã 
Que o curimatã sumiu dos rios 
E o uirapuru fugiu pro alto da mata 
Toda caça ali se dispersou 
Ô Deus Tupã 
Benze a pedra verde, a muiraquitã 
Que os índios 
Estão se juntando igual jamais se viu 
Pelas terras do pau-Brasil

É Kren-Akarore, Kaiabi, Kamaiurá 
É Tchukarramãe é kretire, é Carajá


Eh! Xingu 
Ouvindo o som do seu tambor 
As asas do Condor, o pássaro guerreiro 
Também bateram se juntando ao seu clamor 
Na luta em defesa do solo brasileiro
Um grito de guerra ecoou
Calando o uirapuru lá no alto da serra 
A nação Xingu retumbou
Mostrando que ainda é o índio o dono da terra

1985 - Desfile GRES Tradição
02:22
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